Enquanto para milhões de pessoas que lutam por um lugar no mercado de trabalho o desemprego parece um pesadelo sem fim, milhares de brasileiros estão pedindo demissão de seus empregos com carteira assinada mês a mês, levando as estatísticas a baterem sucessivos recordes.
Levantamento feito pela LCA Consultores nos dados do Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged), que contabiliza as vagas com carteira assinada no país, mostra que, em agosto, foi batido recorde de pedidos de demissão em um único mês desde janeiro de 2020, início da série histórica com a metodologia atual de contagem de vagas.
Do total de 1.773.161 de desligamentos registrados em agosto, 632.798 foram voluntários, ou seja, a pedido do trabalhador – o equivalente a 35,7% do total.
O recorde até então era de março, com 603.136 pedidos de demissão, o equivalente a 33,2% do total naquele mês.
Em relação a julho, o aumento no número de pedidos de demissão foi de 7,5%. Já em relação a agosto de 2021, o avanço é de 25,5%.
Nos estados
Em relação aos 26 estados e o Distrito Federal, só não houve recorde nos pedidos de demissões em agosto no Amapá, Paraná, Santa Catarina e Rio Grande do Sul.
São Paulo se manteve no topo dos estados com maior número de pedidos de demissão. Isso se deve ao fato de o estado ser o que mais emprega no país.
Acumulado de 12 meses
No acumulado de 12 meses, também houve novo recorde no número de pedidos de demissão. O país registrou 6.595.634 pedidos nos últimos 12 meses até agosto entre os trabalhadores com carteira assinada.
Esse número equivale a 32,5% do total de desligamentos de trabalhadores no período (20,266 milhões). Ou seja, 1 de cada 3 desligamentos foram voluntários (a pedido do trabalhador).
Em relação a agosto de 2021 (4.746.755), houve aumento de 39% no número de demissões dentro do acumulado de 12 meses. Já na comparação com julho (6,467 milhões), o avanço é de 2%.
Todas as unidades de Federação tiveram seu maior número de pedidos de demissão desde janeiro de 2020 no acumulado em 12 meses. São Paulo se manteve no topo dos estados com maior número de pedidos de demissão.
Ainda na comparação com janeiro de 2020, o número de demissões em julho chegou a mais que dobrar em alguns estados nas duas bases de comparação.
Atividades com mais pedidos de demissão
Em relação ao estoque de vagas, ou seja, o total de empregos com carteira assinada, o setor de Alojamento e Alimentação foi o que mais registrou pedidos de demissão em agosto.
Já os setores de Atividades Administrativas e Serviços Complementares; Agricultura, Pecuária, Produção Florestal, Pesca e Aquicultura e Atividades Profissionais, Científicas e Técnicas vêm em seguida na maior proporção de pedidos de demissão dentro do total de vagas.
Com isso, mostra-se um movimento de pedidos de demissão vindo principalmente de profissionais mais qualificados e de setores mais aquecidos, como de TI.
Motivos
De acordo com Bruno Imaizumi, responsável pela pesquisa, o setor de Atividades Administrativas e Serviços Complementares, que contempla principalmente serviços prestados para edifícios e escritórios, foi um dos impulsionadores do aumento dos pedidos de demissão, "provavelmente refletindo a volta das empresas a modelos híbridos e presenciais".
Já o setor de Alojamento e Alimentação tem permanecido em primeiro lugar porque foi uma atividade muito prejudicada pela pandemia. Agora, com a recuperação do setor por causa da reabertura dos estabelecimentos para o público e do reaquecimento dos serviços, principalmente na área de turismo e lazer, além da abertura de novos restaurantes, pousadas e hotéis, muitos trabalhadores acabam se demitindo por estarem recebendo melhores ofertas de emprego.
Imaizumi aponta ainda a continuidade de normalização do mercado de trabalho. Com a diminuição dos efeitos da pandemia no mercado de trabalho, os profissionais pedem demissão para serem admitidos dentro de cargos mais adequados a suas qualificações. Além, é claro, da busca por melhores salários, benefícios e possibilidade de ascensão na carreira.
A volta ao trabalho presencial é outro fator que influencia, principalmente em empregos específicos, mais voltados para o setor de serviços em que seja possível trabalhar de casa.
"Com isso, para os trabalhadores que viram que essa modalidade não é benéfica em termos de qualidade de vida, essa volta ao ambiente de trabalho acaba pesando na escolha do profissional, que prefere trabalhar de casa em vez de pegar trânsito todos os dias", aponta.
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